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sexta-feira, 20 de maio de 2011

RITUAIS DE CULTO NOS TEMPOS BIBLICOS - 2ª Parte

DA MONARQUIA AO EXÍLIO
            Os padrões de culto de Israel mudaram perceptivelmente desde o tempo da monarquia (que começou quando Saul se tornou rei, em 1043 a. C.) até ao tempo do Exílio (que começou quando os babilônios capturaram Judá no ano 586 a. C).
            Antes disto, o povo de Israel adorava a Deus em muitos lugares diferentes; no governo dos reis, o culto concentrava-se num lugar central de sacrifício. Antes, uma pessoa podia fazer uma oferta sob o impulso do momento; agora, ela tinha de seguir os procedimentos estabelecidos pela lei de Moisés.

            A. O templo. O primeiro rei de Israel, Saul, parece ter ficado confuso acerca do modo próprio de cultuar. Às voltas com a derrota certa nas mãos dos filisteus, ele retrocedeu ao antigo sistema. Edificou um altar ali mesmo no seu acampamento e pediu a ajuda de Deus. Samuel chegou logo depois para adverti-lo do mandamento do Senhor de  não  adorar  "em todo lugar"  (1  Samuel  13:8-14;  cf. Deuteronômio 12:13).
            Sob a liderança de Davi, Israel, como nação, se tornou mais forte e mais rica. Depois de construir um grande palácio de cedro, pareceu errado a Davi que ele morasse em casa de cedros, e a arca de Deus se achasse numa tenda (2 Samuel 7:2). Portanto, com a bênção do profeta Nata, Davi reuniu materiais e comprou o local para um templo, uma casa de Deus (2 Samuel 24:18-25; 1 Crônicas 22:3). Contudo, ele não iria construir o templo (1 Crônicas 22:6-19), mas seu filho Salomão.
            Os capítulos 6 e 7 do primeiro livro dos Reis e os capítulos 3 e 4 do segundo livro das Crônicas contêm descrições do templo. Há urra notável semelhança entre o templo de Salomão e os planos do tabernáculo (Êxodo 25-28). Por exemplo, cada um deles tinha de câmaras ou pátios. Os altares do templo eram de bronze com utensílios semelhantes aos do tabernáculo. A maioria das representações gráficas do templo incluem degraus que levam a um alpendre com duas colunas de cada lado de uma porta. Dentro da menor estava  a arca  da  aliança.   Uma espécie de galeria para armazenar o tesouro nacional circundava todo o edifício.

            B. Sacerdotes, Profetas e Reis. No tempo de Moisés desenvolveu-se um sacerdócio formal na tribo de Levi. Contudo, sob a monarquia, houve exemplos de sacerdotes não levíticos (2 Samuel 8:17; 20:25; 1 Reis 4:4). Em 1 Reis 12:31 lemos que Jeroboão, o primeiro rei do reino do norte, constituiu seu próprio sacerdócio: "sacerdotes, que não eram dos filhos de Levi".
            As atribuições sacerdotais foram muito especializadas durante a monarquia. Por exemplo, um grupo incumbia-se do altar, e outro estava encarregado do azeite das lâmpadas.
            Mas o povo reconhecia que Deus tinha outros porta-vozes além dos sacerdotes. Quando o povo quis um rei, dirigiram-se a Samuel, o profeta. Que papel desempenharam os profetas no culto de Israel?
            Sabemos que os profetas davam conselho aos reis (1 Reis 22), mas também falavam ao povo nos santuários. Havia, realmente, um "ofício de profeta" formal, como havia um sacerdócio distinto; Amós no-lo diz, negando que pertencia ao corpo de profetas (Amós 7:14).
            Os dois grupos ― sacerdotes e profetas ― tinham diferentes propósitos e funções. Por exemplo, a Bíblia não fala com freqüência sobre profetas no culto; ela fala mais vezes das críticas que faziam das
práticas de culto.
            O rei também desempenhava importante papel no culto de Israel; alguns dizem que seu papel era o mais importante de todos. Quando ele se comunicava com Deus, a nação inteira sentia o impacto (2 Samuel 21:1). O sumo sacerdote ungia o rei para significar que Deus o escolhera para sua tarefa real (cf. 1 Samuel 10:1). Como representante ungido do povo, o rei tinha de fazer sacrifícios (1 Reis 8; 2 Samuel 24:25). Ele reunia materiais para o templo e ordenava a construção. No fim, ele tinha poder de afetar tudo o que Israel fazia concernente ao culto. Alguns dos últimos reis profanaram as atividades do templo com rituais e ídolos estrangeiros. Mas outros forçaram uma volta aos modos próprios de culto.
            A compreensão que o povo tinha do sacrifício foi desafiada neste período. Vejam-se estas palavras do profeta Miquéias: "Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos? com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros? de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? fruto do meu corpo pelo pecado da minha alma?" (Miquéias 6:6-7). Os israelitas tinham de reconhecer que o motivo é mais importante do que o próprio ato de sacrifício. Eles precisavam ver que o Senhor não exige grandes sacrifícios por amor aos sacrifícios, mas requer justiça, misericórdia e humildade (Miquéias 6:8). Esta distinção tinha efeitos de longo alcance.
            Nem toda a matança de animal agora era considerada como sacrificial. O povo podia matar e comer quanto quisesse; mas não podia comer o dízimo do grão, das primícias, ou de qualquer outro sacrifício. Começaram a considerar alguns atos de matança como sagrados, enquanto outros eram seculares.

Diagrama do templo em Araq-el-Emir. Esta reconstrução de um templo judaico edificado pelos macabeus sob João Hircano baseia-se nos achados de escavações no local. A fachada do edifício erigido no começo do segundo século a, C, foi decorada com enormes figuras de leões em relevo. O interior retangular exibia quatro sala» de canto, uma das quais era uma torre com escada». Em tempos posteriores, o templo de Salomão foi profanado de várias formas por infiéis reis judaicos (cf. 1 Reis 14:26; 2 Reis 12:4-15; 16:8; 18:15-16; 21:4; 23:1-12). Finalmente, Nabucodonosor o destruiu no ano 586 a. C.

            C. Festas. As principais festas deste período ainda eram a das Semanas, a dos Pães Asmos (Páscoa) e a das Tendas. O comparecimento do povo ainda era obrigatório, mas todas elas eram realizadas em Jerusalém. (Outrora, eram realizadas em qualquer lugar onde se encontrasse a arca da aliança.)
            Geralmente, o culto durante a monarquia era realizado numa atmosfera de regozijo. Havia música, gritaria e danças. Mas o culto também se caracterizava por orações, votos, vigílias, promessas, refeições sagradas e lavagens rituais.
            As influências estrangeiras começaram a infiltrar-se no culto de Israel e os profetas as denunciaram em alta voz. Amós clamou contra a quebra da lei ritual (Amós 2:8), contra a prostituição ritual (Amós 2:4), e contra o culto que não era acompanhado de arrependimento (Amós 4:4-6). Ele disse que Deus desprezava as festas de Israel (Amós 5:21-24). Os profetas também denunciaram a idolatria no culto de Israel (2 Reis 18:4; Isaías 2:8, 20; Oséias 8:4-6; 13:1-2). Mesmo o próprio templo ― seus móveis e utensílios, simbolismos e padrões de culto ― mostravam influências cananéias, fenícias e egípcias.
            A reforma levada a efeito pelo rei Josias (639-608 a. C.) aboliu os altares locais e acabou com as famílias sacerdotais locais. Todos os sacrifícios eram novamente feitos em Jerusalém. Josias suprimiu os cultos locais e todos os ritos idolatras (2 Reis 23:4-25). Após a sua morte, porém, Judá voltou a fazer o que era mau perante o Senhor (2 Reis 23:32, 37).

O EXÍLIO E O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO
            No ano 586 a. C, Nabucodonosor saqueou Jerusalém e destruiu o templo santo que Salomão havia edificado. Agora os israelitas não poderiam cultuar como o faziam antes; foram obrigados a mudar seu modo de culto. Este período de exílio começou com o que podíamos chamar de "últimos anos" do culto de Israel.
            A Bíblia diz pouca coisa sobre o que aconteceu no local do templo enquanto os judeus se encontravam no exílio. O "templo" de Ezequiel foi, provavelmente, uma visão. Porém, Ciro da Pérsia ordenou aos israelitas que construíssem "uma casa [a Deus] em Jerusalém de Judá" (Esdras 1:2). Ciro também lhes restituiu os vasos sagrados de ouro e de prata que Nabucodonosor havia levado como despojo (Esdras 5:14).
            De muitas maneiras, pois, o segundo templo seria como o de Salomão. Mas a arca da aliança foi permanentemente perdida durante a invasão babilônia. Somente um pequeno grupo de israelitas restaurou o templo, por isso o capital e a mão-de-obra foram mínimos. O novo edifício era menor e menos adornado do que fora o de Salomão. Não obstante, seguia as linhas descritas por Moisés em Êxodo 25-28.
            Evidentemente, todo o culto judaico centralizava-se no novo templo. A Mishna diz que os Salmos estavam em grande uso nessa época. Os salmos de romagem (120-134) eram cantados na Festa das Tendas, e os salmos de hallel (113-118; 136) eram usados em todas as grandes festas.
            Os judeus achavam estar sob o peso da ira e do juízo de Deus. Para reparar a culpa, eles começaram novamente a fazer ofertas e sacrifícios.
            Os levitas encontravam-se entre os primeiros a regressar a Judá: "Então se levantaram os cabeças de famílias de Judá e de Benjamim, e os sacerdotes e os levitas, com todos aqueles cujo espírito Deus despertou, para subirem a edificar a casa do Senhor, a qual esta em Jerusalém" (Esdras 1:5). Note-se que as Escrituras dizem sacerdotes e levitas", como se os dois não mais fossem sinônimos. Nem todos os levitas eram agora considerados sacerdotes - só o eram os descendentes de Arão. Durante a monarquia outros ramos da tribo de Levi tinham sido aceitos como sacerdotes. Mas após o exílio, todos os que alegavam ser sacerdotes tinham de provar que descendiam de Arão antes de serem admitidos no ofício (Esdras 2:61-63; Neemias 7:63-65).
            Outros funcionários do templo que regressaram foram os cantores os porteiros, os servidores do templo (Nethinitn), e os filhos dos servos de Salomão (Esdras 2:41-58; cf. 7:24; Neemias 7:44-60). O livro das Crônicas refere-se aos cantores e porteiros como levitas mas eles eram de origem estrangeira. Eram descendentes de cativos de guerra que assistiam os levitas no templo de Salomão. No tempo de Neemias essas pessoas juraram que "andariam na lei de Deus e não se casariam com estrangeiros (Neemias 10:28-30).
            Neste período pós-exílio ocorreu uma mudança muito importante Levítico 10:10-11 deu aos sacerdotes responsabilidade tanto pela instrução moral como pelas questões cerimoniais, mas o papei docente dos sacerdotes parece ter desaparecido. Ocorre somente uma menção de ensino sacerdotal após o exílio (Ageu 2:10-l3). Na verdade, o profeta Malaquias queixou-se de que os sacerdotes de seu tempo falharam neste importante aspecto (Malaquias 2:7-8). Levitas que não os sacerdotes instruíam o povo no tocante a Lei (Neemias 8:7). O sacerdote tornou-se uma entidade semelhante ao rei, combinando funções tanto religiosas como cívicas.

A jubilosa atmosfera dos antigos rituais cedeu lugar a uma atmosfera de gravidade e remorso. As festas rituais tinham sido principalmente refeições sociais; agora passaram a ser períodos de introspecção inspiradores de temor. Após o exílio os israelitas buscavam aprender como poderiam ser mais obedientes à aliança de Deus.
            Um novo e mais alegre festival ― a festa de Purim ― foi acrescentado às observâncias cerimoniais neste período. Esta festa realizava-se nos dias 14 e 15 do mês de adar para comemorar o livramento dos judeus das mãos de Hamã enquanto viviam sob o governo persa. Desde o tempo do exílio os judeus têm observado esta festa em reconhecimento do contínuo livramento de Deus para com o seu povo.
            A observância do Purim seguia uma norma fixa. O dia 13 de adar era dia de jejum. No crepúsculo daquele dia (que é o começo do dia 14), os judeus congregavam-se para um culto nas suas sinagogas. Após o culto, lia-se o livro de Ester.
            Ao ser lido o nome de Hamã, o povo clamava. "Seja apagado o seu nome", ou "O nome do perverso apodrecerá". Os nomes dos filhos de Hamã eram todos lidos de um só fôlego, para acentuar o fato de que todos foram enforcados ao mesmo tempo.
            Na manhã seguinte o povo ia novamente à sinagoga a fim de concluir a observância religiosa formal. O restante do dia era dedicado ao folguedo. Como em outras observâncias festivas, os ricos eram convocados a prover para os pobres.
            No ano 333 a. C, Alexandre Magno começou a conquista da Síria, do Oriente Médio e do Egito. Após sua morte em 323 a. C, seus generais dividiram entre si as terras conquistadas. Após muitos anos de discórdias políticas, assumiu o controle da Palestina uma linha de reis sírios conhecidos como selêucidas. O governante selêucida por nome Antíoco IV impôs sua vontade aos judeus proibindo-os de participar dos sacrifícios, ritos, festas e culto de qualquer natureza.
            Em 167 a. C, um oficial sírio levou ao templo um judeu e obrigou-o a oferecer sacrifício a Zeus. Um sacerdote por nome Matatias presenciou o acontecimento. Ele matou a ambos, exigiu que todos os judeus fiéis o seguissem e fugiu para as colinas fora de Jerusalém. Aqui ele e seus filhos organizaram-se para a guerra contra os selêucidas. Desceram contra Jerusalém, derrotaram o exército sírio, e tomaram a cidade. Os dirigentes sírios foram obrigados a revogar suas ordenanças contra o culto em Israel. Agora o templo poderia ser purificado e o verdadeiro culto restaurado. (O relato bíblico deste período pode ser encontrado nos livros deuterocanônicos de 1 e 2 Macabeus.) Os judeus atuais lembram-se deste grande evento na festa da Dedicação ou Hannukkah. O próprio Jesus estava em Jerusalém por ocasião de uma celebração de Hannukkah, perto do fim de seu ministério terrena! (João 10:22). Esta festa que dura oito dias é celebrada no vigésimo quinto dia do mês de quisleu, também conhecida como Festa das Luzes; é marcada pelo acendimento de oito velas ― uma em cada dia da festa. A celebração inclui o cântico dos salmos de hallel e é um tanto semelhante à festa das Tendas.
            Sob o governo dos macabeus, os judeus cultuavam de uma maneira nacionalista. Suas esperanças de uma terra governada por Deus trouxeram nova ênfase ao culto, tal como o uso de literatura apocalíptica. A profecia ia diminuindo aos poucos à medida que a literatura apocalíptica lhe tomava o lugar. Um escritor apocalíptico expressou desta forma suas esperanças de um reino terrenal de Deus: "E agora, ó Senhor, eis que estes pagãos, que têm sido reputados por nada, começaram a ser senhores sobre nós, e a devorar-nos. Nós, porém, teu povo, a quem tu chamaste de teu primogênito, teu unigênito, e teu fervente amante, somos entregues nas mãos deles. Se o mundo agora é feito por nossa causa, por que não possuímos uma herança com o mundo? até quando durará isto?" (2 Esdras 6:57-59). Todavia, durante este período o vidente ou apocaliptista falava por Deus. Ele falava de demônios e anjos, de trevas e luz, de mal e bem. Predizia o triunfo final da nação de Israel. Esta esperança fluía como corrente subterrânea do culto judaico.
            Outro aspecto do culto que se destacou neste período foi o estudo da Lei. Era, antes de tudo, um dever sacerdotal, em que se concentravam os hasidim (fariseus). Eles produziram muitos novos ensinos e doutrinas, notadamente a doutrina da ressurreição dos mortos.

A ERA NEOTESTAMENTÁRIA
            No ano 47 a. C, Júlio César escolheu a Herodes Antipatro, judeu da Iduméia (região sul da Judéia), para governador da Judéia. Seu filho, Herodes o Grande, herdou o cargo e chamou a si mesmo de "rei dos judeus". Reconhecendo a história de inquietação do povo, Herodes quis, de alguma forma, ganhar-lhes o favor e a fé. Para tanto, ele anunciou a construção de um terceiro templo em Jerusalém, Os sacerdotes especialmente treinados na arte de construção contribuíram muito para a obra, para ter certeza de que o novo edifício seguia a planta de Moisés. A maior parte do edifício se completou em cerca de dez anos (cerca de 20-10 a. C), mas nem tudo estava terminado até por volta do ano 60 A. D. (Na verdade, alguns eruditos acham que o novo templo não tinha sido acabado no tempo em que Jerusalém caiu sob Tito, geral romano, em 70 A. D.). A maior parte das atividades de culto realizava-se aqui.
            Não obstante, durante as perseguições e exílios de Israel, muitos judeus achavam-se distantes demais de Jerusalém para cultuarem aqui. Significa isto que eles não podiam prestar culto a Deus? De maneira nenhuma! Pelo contrário, eles instituíram o costume do culto na sinagoga local. Certamente, muitos desses lugares de culto informal existiram durante o exílio. O Novo Testamento menciona as sinagogas muitas vezes (p. ex., Mateus 4:23; 23:6; Atos 6:9), mas nos dá pouca informação descritiva sobre elas. De fontes rabínicas sabemos algo das primitivas sinagogas. Também sabemos que a Lei era estudada e apresentada aí: "Porque Moisés tem, em cada cidade desde tempos antigos, os que o pregam nas sinagogas, onde é lido todos os sábados" (Atos 15:21). Recitavam-se muitas orações no culto da sinagoga (Mateus 6:5). Fontes não bíblicas dizem que os cultos da sinagoga consistiam numa oração invocativa, outras orações e bênçãos, a leitura da Lei de Moisés, a leitura dos profetas, e uma oração abençoadora (Megilá 4:3). Somente determinadas pessoas tinham permissão de dirigir o culto, daí ser questionado o direito de Jesus de fazê-lo (Marcos 6:2-4). Paulo ensinou nas sinagogas, mas ele também teve alguma dificuldade (Atos 17:17; 26:11).

Gerizlm vs. Jerusalém
                "Senhor, disse-lhe a mulher: Vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar" (João 4:19-20).
                Essas palavras foram proferidas por uma mulher junto ao poço no pé do monte Gerizim, em Samaria, onde Jesus parou para beber água, e revelam um velho conflito entre judeus e samaritanos.
                O monte Gerizim é o membro sulista de um par de montanhas, entre as quais se situa a antiga Siquém. A montanha nortista, Ebal, é mais baixa. A localização é estratégica, visto que as rotas de viagem se encontram na passagem formada pelas montanhas. Por isso a cidade de Siquém é freqüentemente mencionada em Gênesis. Foi em Ebal e Gerizim que as tribos se reuniram sob Josué para ouvir a maldição e a bênção relacionadas com a violação e observância da lei (Deuteronômio 11:29).
                Os samaritanos sustentavam que Siquém, a primeira capital de Israel, era o lugar escolhido por Deus para sua habitação. Os judeus alegavam que o lugar escolhido por Deus era Jerusalém. Qual era a cidade de Deus?
                Capturada pelos assírios em 722 a. C, a cidade de Samaria tornou-se uma colônia militar. Os recém-chegados ligaram-se por casamento com os samaritanos e aceitaram sua religião.
                O império persa caiu em 333 a. C, e os macedônios sob a direção de Alexandre Magno desceram a costa da Síria em direção do Egito. Jerusalém estava entre as cidades que se renderam aos macedônios. Em 332 a. C. Samaria rebelou-se, e como castigo Alexandre enviou colonizadores para lá.
                Ao estabelecer-se uma colônia grega, as aldeias nativas sob o controle grego muitas vezes formavam uma união em torno de um santuário antepassado. Foi isto que aconteceu em Siquém. Os "sidônios (cananeus) de Siquém" foram organizados neste estilo grego para servirem ao Deus de Israel. Eles não aceitariam os macedônios nem se tornariam dependentes de Jerusalém. Disseram eles aos judeus: "...como vós, buscaremos a vosso Deus..." (Esdras 4:2), mas não cederiam à exigência dos judeus de adorarem em Jerusalém.
                O povo de Siquém fundou um novo santuário. Consagrado ao Deus tanto de Jerusalém | como de Siquém, ele estava situado no cimo de Gerizim, dando vistas para Siquém.
                A principal querela entre judeu e samaritanos era sobre qual possuía o santo templo de Deus. Mais tarde, cada grupo inventou suas próprias] histórias para explicar as origens da controvérsia do templo samaritano. Os samaritanos alegavam que seu templo fora fundado por Alexandre Magno. Os judeus diziam que ele : fundado  pelo  filho de uma  família  sumo-sacerdotal, a quem Neemias expulsou do templo por ser casado com mulher samaritana. Reivindicações tais como essas obscureciam a verdadeira origem do cisma e confundiam questão de data, a qual ainda não se conhece com clareza.

            Os judeus consideravam os seguidores de Jesus como uma seita do Judaísmo. Foi-lhes, portanto, permitido cultuar no sábado juntamente com seus companheiros nas sinagogas e no templo.
            Jesus amava o templo e o respeitava. Ele o apoiava incentivando seus seguidores a freqüentá-lo. Declarou-o sagrado (Mateus 23:16ss.) e julgou-o digno de purificação (Mateus 21:12). Não obstante, Jesus disse: "Aqui está quem é maior que o templo" (Mateus 12:6), referindo-se a si mesmo. Ele acusou que o templo havia sido transformado em "covil de salteadores" (Mateus 21:13).
            A princípio os discípulos tinham emoções conflitantes acerca do culto no templo e na sinagoga. Finalmente, porém, os judeus e os cristãos se antagonizaram a tal ponto que pouca escolha restava senão cultuar separadamente. Este conflito não girava em torno da forma ou do local de culto, mas em torno da natureza do próprio culto. Isto se reflete na conversa de Jesus com a samaritana junto ao poço. Disse ela: "Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar." Ela pensava claramente no culto em termos de aspectos externos, tal como a localização. Jesus respondeu: "Mulher, podes crer-me, que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai... Mas vem a hora, e já chegou, quando os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores" (João 4:21, 23). Cristo e seus seguidores sabiam que a salvação e a justiça não vinham de ofertas e sacrifícios, mas da obediência a Deus em "espírito e em verdade". Quando Deus age e nós reagimos em adoração, nossa reação visível não é tão importante quanto nossa atitude invisível. (Talvez a oferta de Abel tivesse sido aceitável porque ele não abrigava ódio no coração, ao passo que a oferta de Caim foi inaceitável por causa do ódio que tinha contra o irmão.
            Não sabemos se Jesus e os apóstolos participavam de todas as festas e rituais judaicos. O Novo Testamento não nos dá um relato completo de suas atividades. Mas há algum indício de que os cristãos primitivos se reuniam nas casas para culto, quase como os judeus se reúnem nas sinagogas locais. Paulo refere-se à "igreja que está em tua casa" (Filemom 2), "a igreja que se reúne na casa deles" (Romanos 16:5), e à "igreja que ela hospeda em sua casa" (Colossenses 4:15). Mais tarde, sob severa perseguição romana, os lugares de reunião tornaram-se ainda mais humildes e até mesmo secretos.

Muro ocidental,  Jerusalém.   O mais santo dos lugares no mundo judaico é o lado ocidental do muro que Herodes o Grande construiu para fechar a área de seu templo. O muro é chamado "Muro das Lamentações" por dois motivos: Primeiro, os judeus se reúnem aqui. para lamentar a perda do templo. Em segundo lugar, diz a lenda que as gotas de orvalho que se formam nas pedras são lágrimas vertidas pelo muro com pena dos judeus exilados.



Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira

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