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segunda-feira, 23 de maio de 2011

HISTÓRIA DO CRISTIANISMO - 2 PARTE - A. Knight & W. Anglin


HERESIAS E DISSENSOES
Estando para terminar este capítulo, devemos notar a impossibilidade que temos em vista, por causa do pequeno espaço de que dispomos, de enumerar todas as heresias e dissensões que têm entristecido e dividido a Igreja de Deus desde o seu princípio; portanto, apenas nos propomos a lançar a vista para os atos que nos apresentem maior inte­resse, tanto pela sua especial astúcia, como pela sua gran­de influência.
O gnosticismo era um desses males, e foi talvez a pri­meira heresia que depois dos tempos dos apóstolos se de­senvolveu mais. Era um amontoado de erros que tinham a sua origem na cabala dos judeus, uma ciência misteriosa dos rabinos, baseada na filosofia de Platão, e no misticis­mo dos orientais. Um judeu chamado Cerinto, mestre de filosofia em Alexandria, introduziu parte do Evangelho nesta massa heterogênea da ciência (falsamente assim chamada) e sob esta nova forma foram enganados muitos crentes verdadeiros, e se originou muita amargura e dissensão.
Mas havia muito tempo que não se ocupavam com esse erro, nem com muitos que se lhe seguiram, e a Palavra de Deus, que é a única que contém as doutrinas inabalá­veis da Igreja, já tinha predito que "os homens maus e en­ganadores irão de mal a pior, enganando e sendo engana­dos" (2 Tm 3.13). Já o apóstolo Paulo tinha aconselhado o seu filho Timóteo a opor-se aos clamores vãos e profanos que só poderiam produzir maior impiedade (2 Tm 2.16); e se tinha referido, em linguagem inspirada pelo Espírito Santo, às "perversas contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade" (1 Tm 6.5): "Mas tu, ó homem de Deus", clamou ele, "foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Milita a boa milícia da fé, lança mão da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas" (1 Tm 4.11, 12).
O amado apóstolo já tinha combatido o bom combate e acabado a sua carreira e guardado a fé, e com a consciência que o esperava pronunciou palavras que deviam servir para animar a Igreja de Deus nos tempos futuros: "Pelo demais a coroa da justiça está-me guardada, a qual o Se­nhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também, a todos os que amarem a sua vinda" (2 Tm 4.7,8).


Segundo século da Era cristã


REINADOS DE NERVA, TRAJANO E MARCO AURÉLIO
Havia apenas dezoito meses que Domiciano tinha mor­rido, quando a igreja, que ficara isenta de perseguição du­rante o curto reinado de Coccei Nerva, seu sucessor, come­çou novamente a sofrer. Nerva era um homem de caráter brando e generoso, e tratou bem os cristãos; e com uma benignidade digna de louvor restabeleceu todos que tinham sido expatriados pela perseguição de Domiciano. Porém, depois de um reinado de dezesseis meses, foi atacado por uma febre, da qual nunca se curou.
O seu sucessor, Trajano, deixou os cristãos tranqüilos por algum tempo, mas sendo levado a suspeitar deles, de­terminou que se renovasse a perseguição, e, sendo possível, que se exterminasse a nova religião, por meios decisivos e severos. Parecia ao seu espírito orgulhoso que o cristianis­mo era uma ofensa, um insulto para a natureza humana, e que o seu ensino era (como efetivamente o era) inteiramente oposto à filosofia dos seus tempos: uma filosofia que ele­vava os homens a deuses, e tornava a humildade e brandura dos cristãos efeminada e desprezível.
Mas Trajano não tinha a crueldade de Nero, nem de Domiciano; e podia-se notar nessa ocasião uma perplexi­dade e indecisão na sua conduta, que contrastava, de uma maneira notável, com a inflexibilidade de propósito que ordinariamente mostrava nos seus atos. Pela sua carta a Plínio, governador de Bitínia e Ponto, pode-se ver que ele não sentia prazer algum na tortura ou na execução dos seus súditos. Nessa carta diz ele claramente: "Não se deve andar a procura dessa gente" e acrescenta: "se alguém re­nunciar ao cristianismo, e mostrar a sua sinceridade supli­cando aos nossos deuses, alcançará o perdão pelo seu arre­pendimento". Em suma, era a religião, e não os seus adep­tos, que Trajano odiava,

UMA CARTA DE PLÍNIO
A carta de Plínio ao imperador e a resposta deste, são cheias de interesse. Um dos períodos dessa carta rezava assim:
"Todo o crime ou erro dos cristãos se resume nisto: têm por costume reunirem-se num certo dia, antes do romper da aurora, e cantarem juntos um hino a Cristo, como se fosse um deus, e se ligarem por um juramento de não co­meterem qualquer iniqüidade, de não serem culpados de roubo ou adultério, de nunca desmentirem a sua palavra, nem negarem qualquer penhor que lhes fosse confiado, quando fossem chamados a restituí-lo. Depois disto feito, costumam separar-se e em seguida reunirem-se de novo, para uma refeição simples da qual partilham em comum, sem a menor desordem, mas deixaram esta última prática após a publicação do edital em que eu proibia as reuniões, segundo as ordens que recebi. Depois destas informações julguei muito necessário examinar, mesmo por meio da tortura, duas mulheres que diziam ser diaconisas, mas nada descobri a não ser uma superstição má e excessiva". Isto era tudo o que Plínio podia dizer. Não é para admirar que um homem estranho à graça de Deus visse na religião de Jesus Cristo, desprezado e humilde, apenas uma su­perstição má e excessiva. Não é motivo de admiração que o urbano e instruído governador, cuja fama era conhecida no mundo inteiro, escrevesse com tal desdém a respeito de um povo cujas opiniões eram diferentes das suas. "O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, por­quanto se discernem espiritualmente" (1 Co 2.14).

MARTÍRIO DE INÁCIO
Inácio, que dizem ter conhecido os apóstolos Pedro e João, e ter sido ordenado bispo de Antioquia pelo apóstolo João, foi martirizado durante essa época. O zelo com que ambi­cionava sofrer o martírio o expôs a censuras de vários his­toriadores, e com certa razão. Conta-se que na ocasião em que Trajano visitou Antioquia, ele pediu para ser admitido a presença do imperador, e depois de explicar, por bastan­te tempo, as principais doutrinas da religião cristã, e mos­trar o caráter inofensivo daqueles que a professavam, pe­diu que se fizesse justiça. Contudo o imperador recebeu o seu pedido com desprezo, e depois de censurar aquilo que Trajano se aprazia de chamar a sua superstição incurável, ordenou que fosse levado para Roma e lançado às feras.
Enquanto atravessava a Síria, Inácio escreveu várias cartas às igrejas, exortando-as à fidelidade e paciência, e avisando-as seriamente dos erros que se ensinavam. Em uma das epístolas escreve: "Desde a Síria até Roma estou lu­tando com feras por terra e por mar, de noite e de dia sendo levado preso por dez soldados cuja ferocidade iguala a dos leopardos, e os quais, mesmo quando tratados com brandura, só mostram crueldade. Mas no meio destas iniqüidades, estou aprendendo... Coisa alguma, quer seja visível ou invisível, desperta a minha ambição, a não ser a esperança de ganhar Cristo. Se o ganhar, pouco me importarei que todas as torturas do Demônio me acometam, quer seja por meio do fogo ou da cruz, ou pelo assalto das feras ou que os meus ossos sejam separados uns dos outros e meus membros dilacerados, ou todo o meu corpo esmagado".
Quando Inácio chegou a Roma, foi conduzido à arena e, na presença da multidão que enchia o teatro, tranqüila­mente esperou a morte. Quando o guarda dos leões veio soltá-los da jaula o povo quase enlouqueceu, e batia as pal­mas e gritava com uma alegria brutal, mas o velho mártir conservou-se firme.
"Sou, disse ele, como o trigo debulhado de Cristo, que precisa de ser moído pelos dentes das feras antes de se tor­nar em pão". Não precisamos entrar nos detalhes dos pou­cos momentos que se seguiram.
O medonho espetáculo acabou-se depressa, e antes de aquela gente ter chegado a suas casas, tinha Inácio recebi­do a coroa que ambicionara, e estava já com o Senhor na Glória.


Continua...............




Pesquisa: Pr.Charles Maciel Vieira

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