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sexta-feira, 20 de maio de 2011

A GRANDE CASA DE DEUS - Max Lucado - 2ª Parte



A Sala de Estar

Quando nosso coração necessita de um Pai

Pai nosso...

Pai nosso que estás nos céus... Com estas palavras, Jesus escolta-nos à grande Casa de Deus. Devemos segui-lo? Há tanto para ver. Cada sala revela o coração do Pai; cada parada confortará a sua alma. E nenhuma sala é tão essencial quanto esta onde entramos primeiro. Caminhemos atrás dEle, enquanto nos introduz na sala de estar de Deus.
Sente-se na cadeira que foi feita para você e aqueça as mãos no fogo que nunca se apaga. Tire um tempinho para olhar as fotos emolduradas e achar a sua. Não se esqueça de pegar o álbum de recortes e localizar a história de sua vida. Mas, por favor, antes disso, poste-se ante a lareira e examine o quadro pendurado acima dela.
Seu Pai estima muito esse retrato. Ele o pendurou onde todos o possam ver.
Pare diante dele milhares de vezes, e cada olhada será como a primeira. Deixe que um milhão de pessoas fitem a pintura, e cada uma verá a si própria. E todas estarão certas.
Capturada no retrato está a terna cena de um pai e um filho. Atrás deles há uma grande casa sobre a colina. Sob seus pés passa um caminho estreito. Descendo da casa, o pai vem correndo. Subindo a trilha, o filho se arrasta. E ambos encontram-se no portão.
Não podemos enxergar a face do filho, mas podemos ver-lhe o manto esfarrapado e o cabelo pegajoso. Podemos notar a lama atrás de suas pernas, a sujeira em seus ombros, e a bolsa vazia no chão. Um dia, essa bolsa já foi cheia de dinheiro. Um dia, esse rapaz já foi cheio de orgulho. Isso, porém, uma dúzia de tabernas atrás. Agora, a bolsa e o orgulho esvaziaram-se. O pródigo não oferece presente nem explicação. Tudo o que ele oferece é o cheiro de porcos e uma desculpa ensaiada: "Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho" (Lc 15.21).
Ele não se sente merecedor de seus direitos de primogenitura. "Degrada-me. Pune-me. Tira meu nome da caixa do correio e minhas iniciais da árvore genealógica. Estou disposto a desistir de meu lugar à mesa".
O moço contenta-se em ser um empregado. Há apenas um problema: embora o jovem esteja disposto a deixar de ser filho, o pai não está disposto a deixar de ser pai.

Nosso Aba
Dentre todos os seus nomes, o favorito de Deus é Pai. Sabemos que Ele ama este nome, porque é o que Ele mais usa. Enquanto esteve na Terra, Jesus chamou Deus de Pai mais de duzentas vezes. Em suas primeiras palavras registradas, Jesus elucidou: "Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?" (Lc 2.49, ARA). Em sua última e triunfante oração, Ele proclamou: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23.46). Só no Evangelho de João, o Senhor Jesus repetiu este nome 156 vezes. Deus gosta de ser chamado de Pai. Além do que, Jesus não nos ensinou a começar nossa oração com a frase "Aba nosso"?
É difícil para nós entendermos o quanto foi revolucionário haver Jesus chamado Jeová de Aba. O que hoje é uma prática habitual, nos dias de Jesus era algo incomum. Joachim Jeremias, erudito no Novo Testamento, descreve quão raramente o termo era usado:
Com a ajuda de meus assistentes, examinei a literatura devocional do antigo judaísmo... O resultado desses exames foi que, em lugar algum dessa vasta literatura, foi achada a invocação de Deus como "Aba, Pai". Aba era uma palavra comum; uma palavra familiar e corriqueira. Nenhum judeu teria ousado tratar Deus dessa maneira. Não obstante, Jesus o fez em todas as suas orações a nós legadas, com uma única exceção: o brado da cruz — "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Na oração do Senhor, Jesus autorizou os discípulos a repetirem a palavra Aba depois dEle, dando-lhes o direito de partilharem sua condição de Filho. Autorizou-os a falar com o seu Pai celeste de um modo mais confiante e familiar.1
As duas primeiras palavras da oração do Senhor são plenas de significado: "Pai nosso" lembra-nos que somos bem-vindos à Casa de Deus porque fomos adotados pelo dono.

A missão de Deus: adoção
Quando vamos a Cristo, Deus não apenas nos perdoa, como também nos adota. Através de uma série de eventos dramáticos, passamos de órfãos condenados sem nenhuma esperança a filhos adotados sem qualquer medo. Veja como acontece: você chega perante a cadeira de julgamento de Deus cheio de erros e rebeliões. Por causa de sua justiça, Ele não pode deixar de lado o seu pecado, mas por causa de seu amor, Ele não pode deixar você de lado. Então, num ato que atordoa os céus, Ele pune a si mesmo sobre a cruz, por seus pecados. A justiça e o amor de Deus são igualmente honrados. E você, criação de Deus, é perdoado. Entretanto, a história não termina com o perdão de Deus.
Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual chamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.15,16).
Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos (Gl 4.4,5).
Seria suficiente se Deus apenas limpasse seu nome, mas Ele fez mais: deu a você seu próprio nome. Bastaria se Deus apenas o tivesse posto livre, mas Ele fez mais. Ele levou você para casa. Levou-o para a grande Casa de Deus.
Pais adotivos compreendem isso melhor que ninguém. Certamente não quero ofender qualquer pai biológico — eu mesmo sou um. Nós, pais biológicos, conhecemos bem a ânsia de ter um filho. Porém, em muitos casos, nossos berços são facilmente preenchidos. Decidimos ter um filho, e o filho vem. Na verdade, às vezes ele vem sem que tenha havido qualquer decisão. Tenho sabido de gravidezes não planejadas, mas nunca ouvi falar de uma adoção sem planejamento.
Eis porque os pais adotivos compreendem a paixão de Deus ao nos adotar. Eles sabem o que significa sentir um espaço vazio dentro de casa. Sabem o que significa a longa procura, o colocar-se a caminho de uma missão e aceitar a responsabilidade por uma criança com um passado maculado e um futuro incerto. Se há alguém que compreende a paixão de Deus por seus filhos, é aquele que livrou um órfão do desespero, pois foi isto o que Deus fez por nós.
Deus adotou-nos. Deus procurou você, achou-o, assinou os papéis e levou-o para casa.

O motivo de Deus: devoção
Como pastor, tenho tido o privilégio de testemunhar — de perto — a emoção do processo de adoção. Certa vez, uma senhora de outro Estado que me ouvira pregar ligou e perguntou-me se eu conhecia algumas pessoas que tinham a perspectiva de se tornarem pais adotivos. Sua filha grávida estava procurando um lar para o bebê que nasceria. Coloquei-a em contato com uma família de nossa congregação e tomei o primeiro assento na fila de bancos da igreja, enquanto o drama se desenrolava.
Vi a alegria naquela possibilidade e o coração partido frente aos obstáculos. Vi a resolução nos olhos do pai e a determinação nos olhos da mãe. Eles viajariam tão longe quanto necessário e gastariam cada centavo do que tinham. Queriam adotar aquela criança. E o fizeram. Apenas alguns momentos após o nascimento, o bebê estava em seus braços. E isso não é exagero: eles sorriram por um mês depois que levaram o filho para casa. Do púlpito, eu podia vê-los na congregação, embalando o bebê e sorrindo. Penso que se tivesse pregado um sermão sobre a agonia do Inferno, eles teriam rido em cada frase. Por quê? Porque, finalmente, um filho havia chegado ao seu lar.
Deixe-me perguntar-lhe: Por que esse casal adotou aquela criança? Eles tinham um matrimônio feliz. Eram bem empregados e tinham segurança financeira. O que eles esperavam lucrar? Teriam adotado o bebê só para que pudessem ter pouco dinheiro em caixa e noites sem dormir? Você bem sabe. O suprimento de ambos começou a diminuir no minuto em que trouxeram o bebê para casa. Então, por quê? Por que as pessoas adotam crianças? Enquanto você pensa, deixe-me contar-lhe por que Deus o faz.
Deleite-se nestas palavras:
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo. Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade. E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade (Ef 1.3-5, ênfase minha).
E você achava que Deus o tivesse adotado porque você era bonito. Achava que Ele precisava de seu dinheiro ou sabedoria. Sinto muito. Deus o adotou simplesmente porque quis. Foi um gesto de sua boa vontade e favor. Conhecendo muito bem o problema que você seria, e o preço que pagaria, Deus escreveu o nome dEle junto ao seu, trocou seu nome pelo dEle e levou você para casa. Seu Aba o adotou e tornou-se seu Pai.
Posso fazer uma pausa de apenas um segundo? A maioria está comigo... mas alguns meneiam a cabeça. Posso até ver o piscar de olhos. Você não me acredita, não é? Está esperando pela cláusula de rodapé impressa em letras miúdas; querendo ver onde está o truque. Você sabe que na vida não existe "boca-livre"; então fica esperando pela conta.
Seu desconforto é óbvio. Nem aqui, na sala de estar de Deus, você se solta. Os outros calçam chinelos, você veste peitilho. Os outros relaxam, você entesa. Sempre bem-comportado, receando tropeçar e ser posto para fora por Deus haver notado o deslize.
Entendo sua ansiedade. Nossa experiência com as pessoas tem nos ensinado que aquilo que é prometido e aquilo que é dado nem sempre são a mesma coisa. E, para alguns, a idéia de confiar num Pai celeste é duplamente difícil, já que seus pais terrenos foram fonte de desapontamentos ou maus-tratos.
Se é este o caso, insisto com você: não confunda seu Pai celeste com os pais que você vê na Terra. Seu Pai do céu não é propenso a dores de cabeça e acessos de raiva. Ele não pega no colo num dia e espanca no outro. O homem que você tem por pai pode fazer tais coisas, mas o Deus que o ama jamais o fará. Posso provar meu ponto de vista?

O método de Deus: redenção
Retornemos às passagens que descrevem sua adoção. Leia-as uma segunda vez e veja se pode achar o verbo que precede a palavra "adoção" em ambos os versículos.
Porque não recebestes o espírito de escravidão para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual chamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.15,16).
Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos (Gl 4.4,5).
Achou? Não é tão difícil ver, é? Antes da palavra "adoção" está o verbo "receber".
Poderia Paulo ter usado outra frase? Poderia ele haver dito "merecestes o espírito de adoção de filhos"? ou "a fim de merecermos a adoção de filhos"? Suponho que ele poderia ter dito isso, mas nós não teríamos engolido. Você e eu sabemos que uma adoção não é algo que merecemos; é algo que recebemos. Ser adotado por uma família não é uma façanha que alguém realiza, mas um presente que se aceita.
Os pais são os ativos. As agências de adoção não treinam filhos para recrutar pais; elas procuram pais para adotar filhos. Os pais fazem a solicitação, preenchem os papéis, suportam as entrevistas, pagam a taxa e encaram a demora. Você pode imaginar um casal de futuros pais adotivos dizendo: "Gostaríamos de adotar o Joãozinho, mas primeiro queremos saber algumas coisas. Ele tem uma casa para viver? Ele tem dinheiro para custear sua instrução? Ele tem transporte para ir à escola todas as manhãs e roupas para usar todos os dias? Ele pode preparar sua própria refeição e remendar suas próprias roupas?"
Nenhuma agência tolera tal conversa. Sua representante levantaria a mão e diria: "Um momento. Você não entende. Você não adota o Joãozinho pelo que ele tem; você o adota pelo que ele necessita. Ele necessita de um lar".
O mesmo se aplica a Deus. Ele não nos adota pelo que possuímos. Não nos dá seu nome por causa de nossa inteligência, ou nossa carteira, ou nosso bom comportamento. Paulo explica o fato duas vezes porque está duplamente interessado em que compreendamos que a adoção é algo recebido, não conquistado.
É muito bom saber disso. Por quê? Pense cuidadosamente. Se pudéssemos obter nossa adoção através de nossa performance espetacular, poderíamos perdê-la por causa de nossa pobreza?
Quando eu tinha sete anos, fugi de casa. Eu estava cheio das regras de minha mãe, e decidi que podia fazer as coisas do meu jeito. Com minhas roupas numa sacola de papel, saí pisando duro pelo portão dos fundos e marchei rua abaixo. Igual ao filho pródigo, resolvi que não precisava de pai. Diferente do filho pródigo, não fui muito longe. Cheguei ao final da aléia e lembrei-me de que estava com fome; então voltei para casa.
Não obstante curta, aquilo foi uma rebelião. E, houvesse você me parado naquele caminho pródigo, entre as sebes, e me perguntado quem era meu pai, eu poderia ter-lhe contado como me sentia. Eu simplesmente poderia ter dito: "Não preciso de um pai. Sou grande demais para as regras de minha família. Sou apenas eu. Eu e minha bolsa de papel". Não me lembro de haver dito isso a alguém, mas lembro-me de havê-lo pensado. E também me recordo de meu embaraço ao entrar pela porta dos fundos e tomar meu lugar à mesa do jantar, diante do pai verdadeiro que eu tinha e que, momentos antes, eu renegara.
Ele sabia de minha insurreição? Suspeito que sim. Ele sabia de minha rejeição? Os pais geralmente sabem. Eu ainda era seu filho? Aparentemente, sim. (Ninguém havia sentado em meu lugar.) Houvesse você ido ao meu pai, depois de conversar comigo, e dito: "Seu Lucado, seu filho disse que não precisa de um pai. Você ainda o considera seu filho?", o que teria respondido ele? Nem preciso supor qual seria a sua resposta. Ele diria ser meu pai, mesmo quando eu negasse minha filiação. Seu comprometimento comigo era maior que o meu com ele.
Não ouvi o canto do galo como Pedro. Não experimentei o que é ser vomitado por um peixe, como Jonas. Não ganhei um manto, um anel e um par de sandálias, como o pródigo. Contudo, aprendi de meu pai terreno o que esses três aprenderam de seu Pai celeste. Nosso Deus não é um Pai só nos bons momentos. Ele não entra nessa de "ame-o e deixe-o engordar". Posso contar com Ele em meus apuros, não importa qual seja meu desempenho. Você também pode.
Posso mostrar-lhe algo? Olhe para a moldura inferior da tela. Vê as palavras gravadas a ouro? O apóstolo Paulo escreveu-as, porém seu Pai as inspirou.
Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor (Rm 8.38,39).
Seu Pai nunca o rejeitará. As portas desse aposento nunca estarão fechadas. Aprenda a demorar-se na sala de estar de seu Pai. Quando as palavras de alguém o ferirem, ou quando suas próprias faltas o afligirem, venha até a sala. Fite a pintura e lembre-se de seu Deus: é certo chamá-lo de Santo; dizemos a verdade quando o chamamos de Rei. Porém, se você quer tocar-lhe o coração, use o nome que Ele gosta de ouvir. Chame-o de Pai.


Pesquisa: Pastor Charles Maciel Vieira

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